terça-feira, 18 de junho de 2013

Rei do Leite: Império de Wilson Zanatta Estremece

O empresário que comanda o setor gaúcho de laticínios, no momento em que sete marcas estão com a imagem arranhada devido a fraudes no alimento, já foi aclamado Rei do Leite pelo império lácteo que montou no Brasil. O título se justificava: afinal, Wilson Zanatta tinha indústrias em 11 Estados, faturava R$ 1,7 bilhão por ano e planejava se expandir para o Uruguai.
O império estremeceu em fevereiro, quando a Lácteos Brasil (LBR) – fabricante das marcas Bom Gosto e Líder, entre outras – entrou em recuperação judicial, deixando dívida de R$ 1,1 bilhão com mais de 2,7 mil empresas fornecedoras – algumas das quais faliram ou precisaram mudar de ramo. Somente com cinco bancos, entre os quais Banrisul e Sicredi, os débitos somam R$ 131 milhões.
O segundo golpe sobreveio em 8 de maio. Deflagrada pelo Ministério Público Estadual e Ministério da Agricultura, a Operação Leite Compen$ado descobriu adulteração em sete marcas. Uma delas é a Líder, pertencente ao grupo de Zanatta, que teve um lote confiscado por apresentar contaminação com água, ureia e formol.
O escândalo do leite com formol – o mais grave da história recente do setor por afetar a saúde – ocorre justamente quando Zanatta preside o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado (Sindilat). Pela projeção que conquistou, ele também dirige o Conselho Paritário do Leite do Rio Grande do Sul (Conseleite).
O clima no Sindilat e no Conseleite vai do desconforto à indignação. As reuniões se esvaziaram. Industriais que trabalham seriamente, sem fazer alquimias para aumentar o volume do leite, estão descontentes com o fato de o número 1 da área ter caído nas malhas da fiscalização.
A trajetória de Zanatta foi meteórica. Filho de agricultores em Tapejara, no norte do Estado, iniciou-se nos laticínios com uma fabriqueta caseira de queijos. Era 1993, surgia a empresa Bom Gosto – hoje uma das associadas da LBR.
Zanatta foi um ousado trapezista nos negócios, sempre armando uma rede de proteção com financiamentos em bancos públicos. Enquanto comprava vacas holandesas no Uruguai, para qualificar o plantel dos produtores na região de Tapejara, dispunha dos cofres do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que assumiu participação de 23% no capital da Bom Gosto.
Preterindo outros empresários, o BNDES apostou que Zanatta poderia ser referência num mercado fracionado, dividido em inúmeras marcas de laticínios. A partir de 2006, a Bom Gosto engoliu concorrentes. Dois anos depois, amparado pelo BNDES, deu um salto ainda maior: uniu-se à Líder, do Paraná, tornando-se o quarto maior grupo lácteo do país.
O estilo Zanatta contrariava empresários da área, mas trazia resultados. No final de 2010, era anunciada a fusão da Bom Gosto-Líder com a LeitBom, originando a Lácteos Brasil (LBR). Um dos acionistas, o BNDES aportou R$ 700 milhões na LBR.
Mas o colosso andava sobre pés de barro. Confiava num faturamento de R$ 3 bilhões, mas parte das 31 fábricas ruiu num efeito dominó, a partir de 2011, por má gestão ou ociosidade. Hoje, restam 12. Cerca de 30% dos funcionários foram demitidos no projeto de reestruturação.
As ressalvas aos métodos do Rei do Leite aumentaram, mas Zanatta não se manifesta – nem sobre a situação da empresa, nem sobre a fraude com ureia que atingiu uma das suas marcas e abalou a credibilidade de uma parcela dos laticínios gaúchos. ZH entrou em contato com assessores do empresário em São Paulo e em Tapejara, mas a resposta foi negativa.
Berço do empresário, Tapejara está temerosa com o destino da Bom Gosto (LBR), pelo risco de perder impostos e empregos. Prestadores de serviços que gravitavam em torno da indústria sofreram calote, quebraram ou tiveram de se reinventar. Uma das preocupações é uma eventual mudança do empresário para o Uruguai, onde teria comprado terras perto de Montevidéu, em San José.

Autor: Nilson Mariano
 

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